quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O que é ser negro no Brasil?



O termo negro é usado para designar pessoas com um fenótipo de pele escura e cabelo crespo. A palavra passou a ser adotada no século XV com a escravização de africanos por portugueses o que acarretou a sua marginalização social dos povos escravizados e enraizou o conceito de que tudo que é negro é ruim.



Em diversos países africanos chamar alguém de negro soa como ofensa ( é o mesmo que chamá-lo de escravo), sendo então empregada a palavra black ao invés de niger (preto). Se formos analisar pela ótica dos conceitos aparecidos no dicionário Aurélio, dá-se toda razão oa povos que não gostam de serem taxados como negros. Porque, no ilustíssimo dicionário a palavra negro e o indivíduo de cor negra são assim denominados: sujo, encardido, muito triste, lúgrube, melancólico, lutuoso, maldito, sinistro, perverso...



E a mulher negra? aparece denominada como mulher de cor preta, escrava cativa. Esses conceitos infelizmente são trazidos para a realidade do dia-a-dia dos afrodescendentes, ficando claro que a um indivíduo da raça negra pertencem todos os "adjetivos" acima.


São esses os conceitos que os estudantes brasileiros aprendem sobre o que é ser negro. Nunca compreendi a comparação de que negro correndo é bandido e de que branco correndo é atleta, mas depois que um colega meu estudante de turismo me aletou sobre o significado da palavra negrada eu entendi porque o negro correndo é ladrão e marginal.




O termo negrada aparece no dicionário Aurélio do ano de 1986 15ª impressão como grupo de indivíduos dado a pandegas e a desordem. Ou seja, se um grupo de negros reunidos são desordeiros, um elemento deste grupo nunca deixará de sê-lo. É por isso que um negro correndo é visto pela sociedade como bandido, principalmente se ele estiver correndo em direção a um grupo de negros dizem logo que é uma quadrilha.



Deve ter sido por isso que os malês se revoltaram em 1837, os motivos todos nós sabemos: a escravidão e a intolerância religiosa. E para completar, eram negros muçulmanos, guerreiros que não se curvaram as injustiças sociais. Quem conhece verdadeiramente a religião islâmica sabe que a palavra islam significa paz, mas o muçulmano pode se defender em casos de injustiças e não a dar o outro lado do rosto a bater. Não havia recusos democráticos para os malês contestarem, o jeito foi recorrer ao conflito armado.


Foi exatamente por isso que eles foram expulsos da Bahia, quem iria presenciar um templo religioso sendo destruído como fizeram com a mesquita da vitória ficaria calado e subserviente?


Mas também há que se ressaltar que desde aquela época existiam negros contra negros. O movimento dos malês foi boicotado por causa de dois negros libertos que entregaram os planos dos malês as tropas imperiais fazendo com que o movimento fosse sufocado. E ainda hoje não é diferente, existem negros que humilham e maltratam os próprios negros, ao invés de se juntarem e unirem-se para uma causa comum.



Nelson Mandela, que foi considerado um terrorista, hoje é um herói. Ele foi contra o apartheid prometendo cometer atos não violentos, mas depois não teve jeito: recorreu aos meios armados. Enquanto estava na prisão, Mandela enviou uma declaração para o NCA (e que viria a público em 20 de Junho de 1980) em que dizia: "Unam-se! Mobilizem-se! Lutem! Entre a bigorna que é a ação da massa unida e o martelo que é a luta armada devemos esmagar o apartheid!


Aparteid que nos dias de hoje ainda existe, mas de uma maneira camuflada. Já em alguns casos esse aparteid é bem visível: negros cotistas de uma lado e brancos não cotistas de outro. Negros bolsistas e brancos que pagam integral. O correto não seria que todos tivessem a mesma oportunidade de crescer e se desenvolver em um país que se diz de TODOS?



 E Zumbi dos Palmares que nasceu livre, mas com seis anos foi capturado como se fosse um "animal" e entregue as autoridades portuguesas. Tentaram "adestrar" o negro eliminando sua cultura e impondo a cultura da igreja: sacramentos, aprendizado do português e do latim, mas não adiantou Zumbi voltou às suas origens. Lutou, mas acbou morto com a cabeça cortada.Em 14 de março de 1696 o governador de Pernambuco Caetano de Melo e Castro escreveu ao Rei: "Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que entendessem que esta empresa acabava de todo com os Palmares."

Ser negro é assumir não só a cor da pele e o cabelo black, mas lutar contra as injustiças sociais como os malês tentaram, é lutar para pressionar as autoridades a reverem esses conceitos perjorativos da palavra negro que aparece nos dicionários, lutar pela inclusão no mercado de trabalho, pela inclusão acadêmica e por um respeito social.


Atualmente não há necessidade de recorrer as armas nem a guerra, existem vários meios de pressionar o poder público brasileiro a se posicionar sobre a questão do negro e do que é ser negro. Basta vontade, determinação e consciência de que uma mudança precisa ser feita ( nossos antepassados tinham essa consciência), mas que para a mudança existir de fato o negro precisa mostrar a sua força a força da maioria, se organizar e lutar pelo amor mútuo entre os indivíduos de quaisquer raça.


Este artigo foi publicado na Revista Gosto de Ler, Revista Eletrônica Simões Filho em Foco e no maior site de Jornalistas: Jornalistas.blog




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