Diploma de jornalismo: a luta por um pedaço de papel!
Em junho de 2009 o STF acabou com a exigência do diploma
para jornalistas. O principal motivo: a norma
era incompatível com o princípio de liberdade de expressão garantida na
Constituição de 88. A partir daí, começa a luta e a corrida desmedida por defender
um pedaço de papel.
É bem verdade que existem técnicas e regras
de apuração de reportagem que são ensinadas nas Universidades, mas também é verdade
que a qualidade do ensino superior no país teve um decréscimo considerável nos
últimos anos, basta dar uma olhada nos resultados do ENAD. A política geral do
MEC é a quantidade e não a qualidade. O importante é ter números e não pessoas
que realmente aprenderam algo no decorrer de suas vidas acadêmicas.
Existem universitários que chegam às
faculdades sem saber o básico do português e se mantém assim até caírem no
mercado de trabalho totalmente despreparados, mas com um pedaço de papel nas mãos
que lhe garante ser um profissional da informação: o diploma. Do que adianta
esse sistema? Qual a diferença que este “profissional” vai ter em relação ao
não diplomado? Reduzir o bom jornalista a um diploma é no mínimo uma afronta à
sociedade.
A luta do momento não deveria ser por
um pedaço de papel, mas sim pela qualidade do ensino não só dos profissionais
de jornalismo, mas de todas as profissões. Do que adianta defender a bandeira
do diploma, se o aluno passa quatro anos na faculdade e não vê nem 50% da ementa?
Do que adianta passar quatro anos na faculdade, lhe dando com professores mal
remunerados, desmotivados e mal humorados?
Qual motivação o professor vai ter em
sair de sua casa para ensinar e perceber que os alunos que lá estão só estão
porque o pai ou a mãe estão pagando, ou simplesmente porque os alunos querem um
diploma e não um aprendizado para a vida? Qual estimulo terá um professor para
prosseguir desta forma?
A sociedade deveria fazer um convite às
autoridades, no sentido de convidá-las a esquecer do diploma e focar na
problemática do ensino e da filosofia do saber no Brasil. O Diploma ficaria
para segundo plano. Há uma inversão de valores aqui, algo tão grave que se não
for revisado imediatamente, ajudará a garantir a formação de analfabetos
funcionais “vomitados” no mercado de trabalho em decorrência de uma política que
visa tão somente números.
É algo bem parecido com a Policia
Militar, tomando como exemplo a da Bahia. Só se preocupam com a quantidade de
policiais, mas a qualidade deles é algo que fica para segundo plano. Do que
adianta milhões de policiais espalhados pela cidade, se eles não tiverem o
mínimo do conhecimento de direito penal, direitos humanos, ética, moral e
policiamento comunitário? A policia daqui é considerada tão truculenta que a
ONU pediu ao Brasil o seu fim. Seria esse o caminho? Acabar com a polícia? Ou uma
política de acesso à educação, faculdade de qualidade, cursos de extensão,
melhores salários e outras políticas que tornasse o policial amigo do cidadão e
não aquela figura vista como “truculenta e agressora”? E esse raciocínio se
estende a todas as outras profissões, é melhor a quantidade ou a qualidade? O que
vale mais: dois jornalistas diplomados que não sabe 10% do que a profissão
exige, ou um jornalista que tenha consciência filosófica e social da
responsabilidade coletiva do jornalismo para uma sociedade civil organizada?
É isso que precisa ser discutido e
revisto. Depois é que vem o diploma! Existem jornalistas que chegam a ser
preconceituosos com os estagiários de jornalismo. Em sala de aula, ouvi o
professor dizer: “sou contra estagiário fazer publicações”.... Porque o
estagiário não tem um pedaço de papel está automaticamente inapto a escrever um
artigo ou texto sobre qualquer assunto, sob a supervisão de seu editor?
Quer dizer que o estagiário de
jornalismo está fadado a ser apenas um instrumento de uso dos diplomados e não
tem direito algum de ter um texto divulgado em um veículo de comunicação,
simplesmente porque lhe falta um pedaço de papel?
Como estagiária de jornalismo, tenho
textos divulgados em revistas e que antes de serem publicados passou pelo olhar
da editora e da revisora, nada mais justo, já que elas têm uma experiência mais
vasta do que eu no mercado de trabalho. O que não pode acontecer, é ajudarmos a
propagar o preconceito contra qualquer pessoa, por causa de um pedaço de papel
sem antes avaliarmos a qualidade pedagógica do profissional envolvido.
O
pior, é que existem estudantes de jornalismo caindo nesse oba-oba e esquecendo
do que é primordial: um ensino de qualidade e isso realmente está muito além de
um simples diploma.
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