sábado, 4 de setembro de 2010

NEOLIBERALISMO

O neoliberalismo, ou capitalismo monopolista pós-moderno, fracassou em todo o planeta. Por onde passou, na URSS, no Leste Europeu, na Ásia, ou na América Latina, no México e mais recentemente, na Argentina, destruiu o homem, as sociedades e as economias locais, deixando um rastro de desemprego, miséria e de fome. Aonde chega, inverte e subverte as leis, os postulados e os objetivos universais da economia clássica. A atividade produtiva deixa de ser a fonte da riqueza, substituída pela especulação, pelo jogo cambial e
pela ciranda financeira. 

O novo templo da nova economia é a Bolsa de Valores.. As leis do mercado são revertidas: Já não
é o consumidor quem decide, é o empresário; "É a afirmação onipresente da escolha já feita na produção, e o consumo decorre dessa escolha." (Guy Debord em A Sociedade do Espetáculo). É a economia dos monopólios, dos cartéis e dos trustes, que se superpõe ao regime da concorrência de mercado
e ao consumidor.


A economia pós-moderna que se constrói neste alvorecer do terceiro milênio não é senão a expressão dos interesses dos capitais monopolistas transnacionais; já não visa a satisfação das necessidades humanas; e a sociedade que serve aos interesses da economia. É a economia pela economia, cujo crescimento se dá pela destruição da pequena e média empresa pela grande empresa; da empresa nacional pela empresa
transnacional. 

Adam Smith, séculos atrás, já registrara o caráter predador dos monopólios: "O monopólio torna todas as
fontes originais de redito,, os salários, a renda da terra e os lucros do capital, menos abundantes do que de outro modo sucederia." (Adam Smith em Riquezas das Nações).. É a volta do tempo do Laissez-faire, dos monopólios, da sacralização da empresa privada e do individualismo exacerbado. O resultado é
a recessão, o desemprego e o caos econômico e social.

O mundo já viu esse filme nos anos que antecederam a Crise de 1929. Uma crescente concentração de riqueza e um aumento do desemprego e da miséria marcaram a economia dos EUA ás vésperas da crise. Em 1929, 13% da população detinham 90% da riqueza nacional, enquanto 21% da população ganhavam menos de US$ 1 mil dólares/ano, abaixo do limite mínimo de sobrevivência. Isto dá US$ 83,33 dólares/mês, valor maior do que o nosso salário mínimo atual que, á taxa de R$ 2,40/dólar, equivale a US$ 75,00 dólares/mês. As duzentas maiores empresas detinham 56% dos lucros gerados no país (Jayme Brenner em 1929-A Crise que Mudou o Mundo). Um quadro muito semelhante ao que atravessamos atualmente, apesar das
diferenças e constrangimentos de cada um, no nosso caso, a dívida externa exorbitante e o acordo colonial com o FMI.

O capitalismo monopolista liberal dos anos 20 renasce, agora, renovado e ampliado na escala planetária pelas conquistas da revolução científica e tecnológica e, certamente, mais vulnerável. Mais vulnerável porque a globalização, fundada na ideologia (neoliberal) e na expansão do capital financeiro e monopolista transnacional, resulta, na verdade, de uma profunda crise mundial de superprodução, não resolvida. 

Na verdade, esse regime econômico e político, pelas distorções econômicas e sociais que produz, tende a
ser superado. E as populações excluídas em todo o mundo já começaram a reagir.Novas relações de produção são construídas em substituição ás relações capitalistas clássicas entre patrões e
empregados. 

Na indústria, o operário foi ejetado para fora da fábrica, pela primeira vez na história, substituído por
equipamentos automáticos, auto-reguláveis; pelos robôs controlados de fora por equipes de cientistas.. O operário,no sentido marxista, da palavra, tende a desaparecer. " O proletariado simplesmente desapareceu. Desfez-se junto com a luta de classes" (Jean Baudrillard em "A Transparência do Mal"). 

Esse fenômeno, entretanto, não é linear, nem ocorre num piscar de olhos. Ele acontece de forma paulatina no
decorrer da modernização do sistema produtivo, á medida que os equipamentos novos, de última geração, vão sendo introduzidos nas empresas. Ele se dá num processo de formação e de substituição de capital, realizado ao longo de décadas, pois as novas tecnologias, capital intensive e energy intensive requerem investimentos altíssimos.

 Em razão da sua alta produtividade, a adoção desses modernos equipamentos de produção somente é possível numa economia em crescimento, em que a demanda efetiva, o consumo global e o mercado interno estejam em expansão sustentada. A modernização tecnológica somente se viabiliza a partir de um certo patamar de crescimento da demanda interna, e não atinge, nem simultaneamente, nem igualmente, todos os setores produtivos. 

De um modo geral setores modernizados, setores em modernização,, setores tradicionais e atividades artesanais coexistem, lado a lado. Estes dois últimos e os setores de prestações de serviços e profissões liberais permitem a absorção de mão-de-obra não especializada em regime de
desenvolvimento econômico.

É preciso, portanto, distinguir o desemprego tecnológico, menos dependente do regime econômico e político do "desemprego econômico", derivado da queda da demanda efetiva e do mercado. O primeiro resulta das inovações tecnológicas e o segundo é provocado pela política neoliberal. 

Esta distinção é básica. Atualmente, no setor de serviços, nos bancos, no comércio,no setor público, enfim, em todos os campos da atividade humana, as novas tecnologias substituem e desempregam mão-deobra.
Mas a responsabilidade pelo desemprego não pode ser atribuída exclusivamente á nova tecnologia. No Brasil e no Terceiro Mundo, com certeza, a causa maior, do aumento do desemprego é o neoliberalismo que, aonde quer que chegue,desmonta o Estado, extingue as políticas públicas, promove o
arrocho salarial e paralisa o desenvolvimento econômico social.

O desemprego de ordem tecnológica, provocado pela introdução de modernos equipamentos, seria perfeitamente absorvidos nos setores tradicionais numa economia em crescimento. O desemprego pode ser provocado pela inovação tecnológica, mas a permanência da taxa de desemprego é de ordem econômica, determinada pela estagnação ou pela recessão do mercado interno. Isto é particularmente visível naseconomias do Terceiro Mundo.

 O Neoliberalismo ou capitalismo monopolista pós-moderno congela o desenvolvimento econômicosocial
e produz o desemprego antes mesmo que se esboce o processo de modernização tecnológica.Graças a ele o exército de excluídos vem aumentando no mundo globalizado, e não são só trabalhadores que o compõe: são pequenos e até grandes empresários falidos, profissionais liberais, intelectuais, operários, camponeses, desempregados; crianças, jovens e idosos sem perspectivas e marginalizados. Há ainda a economia
informal, que não é senão uma forma de desemprego disfarçado.

E mais, há os sem-terra, sem-casa, sem-assistência médica, sem-cidadania, os sem rendas, párias da sociedade da sociedade capitalista neoliberal. A grande diferença entre esse moderno exército de excluídos e aqueles dos séculos XVIII e XIX e a sua heterogeneidade de classe social de
origem, de experiência e de cultura.


A luta que se trava nessa nova sociedade, especialmente no Terceiro Mundo, não é mais a tradicional luta de classes, entre patrões e empregados. É a luta de libertação, pela conquista da autodeterminação. O objetivo agora é comum: a sobrevivência de todos, das comunidades e das sociedades nacionais, das identidades e culturas nacionais; das empresas nacionais e dos trabalhadores sufocados pelos interesses do
capitalismo predador internacional. 

O grande desafio é a valorização do trabalho e o resgate do homem, transformados
em mercadoria; a recuperação dos mercados nacionais; a inserção dos excluídos e o controle pela sociedade da produção social de imagens, da ciência, da engenharia genética, da tecnologia, dos recursos naturais e também, do capital financeiro e dos monopólios. Os mesmos supercomputadores que excluem os bancários podem também excluir banqueiros.


Tudo se passa ao contrário do que afirmam os ideólogos do neoliberalismo: "Dans l'actuelle phase impériale, il n'y a plus d'imperialisme - ou, quand il subsiste, c'est um phénomène de transition vers une circulation des valeurs et des pouvoirs à l'échelle de l'Empire. De même, il n'y a plus d'Etat-nation: lui echappent les trois caracteristiques substantielles de la souveraineté-militaire, politique, culturelle, absorbées ou remplacées par les pouvoirs centraux de l'Empire. La subordination des anciens pays coloniaux aux Etats-Nations impérialistes, de même que la hiérarchie impérialiste des continentes et des nations disparaissent ou
dépérissent ainsi: tout se réorganise em fonction du nouvel horizon unitaire de l'Empire." (Toni Negri - Le Monde Diplomatique - janeiro 2001). 

Mais adiante o autor define: "Non, l'Empire est simplement capitaliste: c'est lordre du 'capital collectif', cette force que a gagné la guerre civile du XX siècle".

Não, a responsabilidade pela crise mundial de desemprego não pode ser atribuída a um conceito abstrato e virtual como o capital collectif. O dualismo entre a metrópole e as colônias do Terceiro mundo subsiste hoje entre o norte e o sul, mais sutil, porém mais concreto e eficaz. O imposto do "quinto do ouro" cobrado por Portugal no século XVIII, não passava de 20% da produção aurífera. Hoje, supercomputadores
extraem até 38,5% (IR 27,5% + INSS 11%) dos salários, antes mesmo que seus titulares os recebam, mas os objetivos e os efeitos da globalização são os mesmos do imperialismo dos séculos XVIII e XIX: a expropriação de riquezas dos países pobres pelos países ricos, que ficam cada vez mais ricos,
enquanto os pobres ficam cada vez mais pobres. 

Vivemos uma fase de transição; um processo de integração de nações para a formação de blocos continentais muito semelhantes á que integrou os feudos para dar origem as Estados Modernos nos séculos XIV, XV e XVI, na Europa. Nem por isso desfez-se o imperialismo que, pelo contrário, renasceu econômica e politicamente mais forte e mais poderoso os séculos XVIII e
XIX. 

Os principais estados do Primeiro Mundo mantém sua hegemonia militar, política, econômica e cultural intactas, e a manterão por muito tempo. A União Européia vem para fortalecer essa hegemonia. Tal como na formação do Estado Moderno, a integração atual obedece a razões de sobrevivência
econômica e fortalece o poder político dos próprios Estados Nacionais.

O Estado-Nação e o seu sucessor, o Estado-Continente,cujas capitais e endereços continuarão os mesmos, certamente sobreviverão a este capitalismo monopolista, neoliberal e neocolonialista. Os feudos medievais cederam lugar ao Estado- Nação e este cederá lugar ao Estado-Continente. 

O neoliberalismo ou capitalismo monopolista pós-moderno não tem mais nada a oferecer á humanidade: esgotou-se. Um novo mundo apenas começa a nascer, mas é preciso construí-lo com nossas
mãos; um mundo em que o homem e o humanismo votem a ser o centro e o fim de toda ação humana. Isto implica na realização de um novo desenvolvimento econômico-social, voltado para as necessidades humanas; para a valorização dohomem e do trabalho, pois é o homem que constrói a ciência, a tecnologia e a própria sociedade.

 O capital e a tecnologia são inertes. Será uma luta árdua, difícil, dramática, pois as forças do neoliberalismo resistirão pela mistificação, pela mentira e pela força, uma vez que não convencem ninguém.

Fonte: Digerati Editorial

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